Nota prévia
O presente artigo foi
escrito na segunda quinzena de Junho do corrente ano após as eleições
legislativas e enviado ao Diário de Coimbra, não tendo merecido a honra de
publicação. Surgiu agora a oportunidade neste blog o que aproveito, pois as
considerações nele contidas foram posteriormente realçadas pelos relatórios do
Presidente do Supremo Tribunal de Contas e do Ministério das Obras Públicas que
além de condenaram o projecto criticaram severamente os desmandos verificados
na sua execução. O que era evidente para toda a gente de bom senso...
Comboio já lá vai...
Tram-train já não vem!
O título poderia ser o
mote para o refrão de um requiem pela morte do Ramal da Lousã.
Nunca acreditei no
Metropolitano de Superfície e disso dei inúmeras provas em artigos publicados
há uma dezena de anos no Mirante dos quais destaco os titulados “Ver para crer”
e “Não deixem cair a nossa ponte”. Este, na ressaca da queda da ponte de
Entre-os-Rios, salientando a importância desta infraestrutura no
desenvolvimento daquela região e a falta que iria fazer às populações até a
construção de uma nova ponte e chamava a atenção para as implicações que traria
o desaparecimento do nosso ramal, uma ligação centenária que foi uma “ponte”
para o progresso dos povos da beira-serra da Lousã. Fui um severo crítico da
substituição do ramal e a leviandade com que foi desmantelada a linha mais fez
arreigar na minha mente a convicção de que o fim estava perto! A esta hora já
os carris e quiçá o material circulante terão sido fundidos às ordens de um
qualquer sucateiro. E depois de tudo fundido já não restam quaisquer dúvidas da
morte da Linha da Lousã, Nem era preciso a candidata do Partido Socialista às
Eleições Legislativas, Ana Jorge, soltar o amen, ao admitir que a ligação a
Coimbra poderia ser assegurada por autocarros!
Não fiquei
surpreendido, pois admitia que à partida, o projecto do Metro Mondego era
inviável, já pelas entidades que iriam proceder ao financiamento e administração
(REFER e Autarquias de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã) desprovidas de
capacidade financeira para concretizar a ideia, já pela indefinição que se
verificou até ao fim quanto ao percurso dentro de cidade!
Por outro lado, toda a
gente sabia que a REFER nunca teve interesse em manter ramais (em 2010 foram
uns poucos desactivados), importando-se apenas com algumas linhas de longo
curso.
Para dar uma ideia de
modernidade apelidaram então o futuro transporte de Metropolitano Ligeiro de
Superfície (mais tarde designado por Tram-train), tão ligeiro que desapareceu
sem ninguém o ver!
Satisfeita ficou a
cidade de Coimbra que nunca escondeu o seu descontentamento pela intrusão das
automotoras nas suas artérias e mais descansados ficaram os seus autarcas que
pouco ou nada se empenharam a sério na concretização deste projecto.
E para que apressar as
coisas? O dinheiro ia dando para pagar aos administradores, aos projectistas
para sucessivas alterações do trajecto, as viagens ao estrangeiro para a
escolha do modelo adequado, as chorudas indemnizações aos amigos (em Miranda do
Corvo houve terreno implantado na REN que foi pago a 87 euros o m2!) e todas as
fanfarronices que competem à interessante classe administradora!
Agora o resultado está
à vista. Os responsáveis assobiam para o lado e aguardam calmamente a
recompensa pelo “trabalhinho” como é timbre entre nós. Num país onde o
esbanjamento é a palavra de ordem ninguém será responsabilizado e a Linha da
Lousã passará a ser apenas uma reminiscência na nossa memória.
O Tram-train não vem
porque o encerramento da linha já estava decretado há muito!
Augusto Paulo, Miranda
do Corvo
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