Uma
necrópole da Idade Média foi descoberta em Miranda do Corvo durante as
escavações arqueológicas efectuadas no âmbito do projecto da Rede Urbana dos
Castelos e Muralhas Medievais do Mondego, anunciou no passado mês de Abril, a Câmara Municipal.
As
escavações arqueológicas foram realizadas na zona do Calvário, onde se situa a
igreja matriz, para tentar encontrar a muralha do castelo medieval que ali
existiu até finais do século XVIII. "Viemos para escavar um castelo e
descobrimos uma necrópole", disse à agência Lusa a arqueóloga Vera Santos,
responsável da equipa de campo que, desde o verão de 2011, procedeu aos trabalhos.
A arqueóloga explicou que, em 40 metros quadrados
foram identificadas 29 sepulturas, escavadas 25 e "levantados 38
indivíduos", devido a corpos enterrados em sobreposição. Uma necrópole
"com tantas sepulturas, com uma ocupação tão extensa, com material osteológico
tão bem preservado é rara em Portugal", sublinhou a responsável pelas
escavações.
"Quando temos sepulturas escavadas na rocha, em granito, falamos em uma, duas, três, no máximo, e quando se fala em necrópole, falamos em sete. Aqui, falamos em 29 e o facto de ser em xisto é também muito pouco usual e, normalmente, já não aparecem com tampas e com esqueletos", disse a arquelóga, para quem se está, neste caso, "perante uma estação arqueológica digna de registo".
Segundo Vera Santos, a maioria das sepulturas identificadas "são antropomórficas". A arqueóloga considera que esta necrópole "se destaca a nível nacional, pelo tamanho e pela rocha xistosa, pouco usual por se fragmentar muito".
Na actual zona do Calvário, junto da actual igreja matriz, localizava-se o castelo de Miranda do Corvo, que fazia parte da linha defensiva do Mondego juntamente com os de Penela, Germanelo (Penela), Soure e Montemor-o-Velho, importantes durante o período da reconquista cristã.
Do castelo resta apenas a torre - em que no início do século XX ainda era possível vislumbrar as cantarias quinhentistas -, reconstruída sem suporte documental e actualmente em estado de degradação, e uma antiga cisterna. "A transformação desta zona numa pedreira e, depois, as obras realizadas nos anos 60 do século XX, delapidaram o sítio, transformando-o e fazendo esquecer qualquer memória de que aqui tenha existido um castelo, pois apenas sobreviveu a torre sineira, completamente descaracterizada, e a cisterna", sublinhou Vera Santos.
Fonte: Jornal de Arqueologia
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