«O Movimento de Defesa do Ramal da Lousã (MDRL) aprovou hoje à noite, durante uma vigília, um documento a exigir a "modernização e electrificação" daquela linha-férrea, em oposição ao projecto de um metro de superfície previsto pelo Governo.
Em Março de 2006, o ministro Mário Lino anunciou o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), que prevê para a ferrovia que liga Coimbra a Serpins (Lousã) e para a cidade de Coimbra a instalação de um metro ligeiro de superfície do tipo "tram-train" -- com capacidade para circular nos eixos ferroviários, urbanos, suburbanos e regionais.
Hoje à noite, durante uma vigília junto à estação de Moinhos, no Concelho de Miranda do Corvo, cerca de seis dezenas de utentes empunhando velas acesas aprovaram uma proclamação a enviar ao Presidente da República e ao primeiro-ministro que reitera o pedido de uma "avaliação das alternativas técnicas para a electrificação e reabilitação" da linha ferroviária.
O movimento questiona como "se pode aceitar a destruição deste meio de transporte e os gastos milionários que se anunciam, num tempo de tão grave crise financeira, quando sabemos que procedendo a CP/REFER à electrificação e melhoria da linha os contribuintes pouparão muito dinheiro e os utentes do Ramal mantêm o seu precioso transporte".
"Por uma qualquer decisão política sem fundamento técnico-económico, não podem os passageiros do comboio ter de suportar, durante dois ou mais anos (ou para toda a vida!) um muito penoso acesso ao locais de trabalho e de estudo, em transportes de má qualidade e com horários que vão prejudicar a vida profissional, académica e familiar de toda a gente", acrescenta o documento.
António Luís Mendes, ferroviário durante 42 anos, de Ceira, disse à agência Lusa que "é um erro de toda a dimensão" o projecto do SMM no Ramal da Lousã.
"O dinheiro que vão gastar aqui a mais dá para prolongar a linha até Arganil e ligar Miranda a Tomar", sustenta, convicto de que, se começarem as obras, "nunca mais há comboio, nem metro, nem nada".
"A solução era electrificar a linha e colocar novo material circulante. Para o país que temos era muito melhor assim, do que estarmos a estragar dinheiro que é do povo", acrescenta o antigo ferroviário.
Citando um técnico de uma empresa alemã, António Luís Mendes afirma que "em seis meses" se electrifica a linha e se colocam comboios a andar "sem qualquer interrupção ou má circulação".
Utente há quase 70 anos, Maria Adelina, de Miranda do Corvo, considera que as questões económicas e a comodidade dos utentes justificam a opção da electrificação e novo material circulante em vez de um metro ligeiro de superfície.
"Não é viável andarmos anos de camioneta, mal acondicionados, com crianças para as escolas", refere.
Para Maria Adelina, "se electrificassem a linha o investimento ficaria possivelmente por muito menos dinheiro e os utentes mais bem servidos".
O MDRL considera que o anunciado encerramento do Ramal da Lousã, que serve por ano um milhão de passageiros, por um período mínimo de dois anos para obras, "constituiria um grave atentado às condições de mobilidade de tantos trabalhadores, estudantes e outros utentes que diariamente utilizam este transporte".
"O transporte rodoviário não é alternativa numa estrada muito acidentada e sinuosa, com troços onde nem é possível o cruzamento de veículos, obrigando a tempos de viagem que podem chegar a ser o dobro ou triplo do comboio", salienta o movimento.
No final de Junho, o MDRL promoveu uma viagem de autocarro entre Coimbra e Serpins, término da linha, em hora de ponta, para os utentes verificarem "o transtorno e o inferno rodoviário" que serão os transportes alternativos quando a linha for encerrada.
"Dado que a capacidade de uma automotora será equivalente a seis ou sete autocarros, fácil será antecipar o caos rodoviário que o encerramento da ferrovia criaria no acesso sul a Coimbra, transformando as horas de ponta num verdadeiro inferno para todos: actuais utentes da CP e automobilistas", lê-se no documento aprovado esta noite.
"Em vez de destruir o que existe, que se promova antes na região o transporte público ferroviário, à semelhança do que sucede nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, sem esquecer a cada vez mais importante componente do transporte de mercadorias, reabilitando as linhas existentes", defende o movimento.» In JN
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=1044653
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