sábado, outubro 28, 2006

Comboios de Portugal – Uma História com 150 Anos

(Clique duas vezes com o botão do lado esquerdo, do rato no título)

Automotora DMV Allan CP 0301V21, com a pintura vermelha

As locomotivas a vapor surgiram em Inglaterra, em 1825. Um comboio da época alcançava 45 km/h e podia fazer centenas de quilómetros seguidos, ao contrário dos veículos de tracção animal utilizados na época. A Revolução Industrial tornou o mundo mais veloz.
Os caminhos de ferro em Portugal foram inaugurados há 150 anos, mais precisamente em 28 de Outubro de 1856, entre Lisboa e o Carregado. Cinquenta anos depois foi concluída a rede ferroviária nacional.
16.12.1906 – Inauguração do Ramal da Lousã, com o percurso Lousã-Coimbra-Lousã.
No espaço de tempo compreendido entre 1907 e 1927 foram feitas várias tentativas para levar o caminho de ferro da Lousã, até Gois e Arganil, empreendimento que nunca foi finalizado, devido à mudança da monarquia para a república, ao deflagrar da I Grande Guerra Mundial, às graves crises económico-sociais que agitaram o início do Século XX e ao «crash» da bolsa de 1929, que teve graves repercussões na economia mundial.
Em 10 de Agosto de 1930 é inaugurado o troço Lousã-Serpins e, apesar dos protestos dos habitantes de Arganil, até hoje a ligação não foi concluída.
Na década de 50 chegou-se a falar da ligação do Ramal da Lousã ao Ramal de Tomar, concretizando a ligação à linha ferroviária nacional, mas, tudo não passaram de meras conjecturas.

Linha da Lousã - Ponte sobre o Rio Mondego

Em Novembro de 1952, graças ao Plano Marshall e outros empréstimos, a CP procedeu à aquisição de 41 automotoras DMV Allan CP 0301V21, com a pintura vermelha, que entraram ao serviço em 1953-1954 e circularam no ramal durante cerca de 50 anos! Estas foram objecto de recauchutagem, nas oficinas da EMEF, em 2000, onde foi reaproveitado o chassis e implementada uma carroçaria moderna de cor verde e o seu interior objecto de modificações, tendo sido introduzido o ar condicionado.

Automotoras Ferrobus (origem espanhola), utilizadas nos ramais da Lousã e da Figueira da Foz


Em 2000, automotora Allan, após a recauchetagem nas oficinas da EMEF

Nos finais dos anos 70, a CP adquiriu à Renfe, automotoras usadas, que acabaram de sair de circulação, pouco tempo depois, após múltiplos problemas!
Em 1996 é constituída a Sociedade Metro Mondego. Hoje, 10 anos depois, o metro ainda não saiu do papel, tendo apenas algumas casas ido abaixo em Coimbra, em obras que não parecem ter fim à vista, como tudo neste país. Desde sempre que a construção deste tem estado envolvida em polémica.
Desde 2005, nalguns horários, a CP introduziu as automotoras que circulavam na Linha da Amadora, permitindo nas horas de ponta o transporte de mais passageiros.


Unidade Dupla Diesel UDD da série 451-99, reabilitadas em 1999, nas oficinas da EMEF

Para a Linha da Lousã estão projectadas obras de remodelação, designadamente de electrificação, para permitirem a circulação de comboios mais rápidos e seguros e a instalação do tram-train (no âmbito da criação do metropolitano ligeiro de superfície em Coimbra e a sua articulação com a rede ferroviária da região). A nova linha terá um comprimento de 37 quilómetros, sendo constituída por dois troços distintos: um urbano/suburbano entre Coimbra B e Ceira e um outro de carácter regional entre Ceira e Serpins.
O Ramal da Lousã é utilizado por mais de 100.000 passageiros por ano e estende-se ao longo de 37 km, em via única, de Coimbra-Parque a Serpins, com passagem por Ceira, Miranda do Corvo e Lousã.
O Ramal tem 3 pontes, da Portela, sobre o Rio Mondego, com 27 metros de comprimento, de Almalaguês, com 25 metros e a de Ceira com 140 metros. Túneis são seis, a saber: Vale de Açor (282 metros), do Toco (60 metros), do Vale Mancabo (112 metros) do Passareiro (125 metros), do Carro (59 metros) e o de Miranda do Corvo (122 metros).
O cruzamento de comboios é feito em Coimbra-Parque, Ceira, Miranda do Corvo, Lousã e Serpins.
O comboio para além de possibilitar o desenvolvimento económico da região, concelhos de Miranda do Corvo e Lousã, possibilitou a expansão destas duas vilas, na década de 90, devido às casas serem mais económicas, do que em Coimbra.
A nível nacional, a CP aposta tudo por tudo na alta velocidade, no TGV, em prejuízo dos pequenos ramais, ponderando a breve prazo encerrar a título definitivo as linhas do Sabor, do Corgo e do Tua, condenando o interior à desertificação humana.
Ao contrário, da restante Europa, onde se investe cada vez mais, no caminho de ferro, relegando o alcatrão para segundo plano, melhorando o traçado, os horários, o material circulante, aumentando o número de composições e a comodidade destas.
Recentemente, a Áustria e a Suiça impuseram barreiras à circulação aos camiões TIR, favorecendo a deslocação de mercadorias através dos caminhos de ferro, por cá encerram-se linhas e cais de mercadorias. O cais de mercadorias de Miranda do Corvo encontra-se encerrado há uns anos e poderá dar lugar a mais alguns prédios a breve prazo, se a pressão imobiliária aumentar de novo.
Tudo deve ser feito para privilegiar os transportes públicos e a poupança de energia, relegando o automóvel pessoal para segundo plano.
Entretanto, a Refer votou os apeadeiros e as estações ao abandono, o vandalismo prossegue e o património de todos nós é todos dias delapidado, exemplo: os belos azulejos da Estação da Lousã, vítima de graffitis.


Rede Ferroviária Nacional em 1952!


«O abandono a que se sujeita a via férrea nacional é apenas um sinal da nossa colectiva perda de memória. Abandonar o comboio significa abandonar parte substancial da nossa história.»

4 comentários:

Anónimo disse...

Achei o blog interessante por apresentar a cultura, a realidade de hoje e que se pode fazer em termos associativos. É importante que a politica neste país comece a surgir de nucleos de cidadãos porque os politicos que temos só olham para a sua barriga e esquecem as populações.Nada fazem a não ser de fachada para criarem nome.
Por isso é preciso que a verdade seja posta sempre a descoberto.

Álvaro Azevedo

Anónimo disse...

... e disto percebo eu !
Os meus amigos sabem (muitos já não viram ou não se lembram9, porque é que na Estação Nova em Coimbra, as bilheteiras eram feitas em madeira?
Porqua dias antes da inauguração do edifício, verificaram que se tinham esquecido de as fazer !...
E vai daí e de forma repentina, toca a remediar !...

"Disto"... sei eu e não é para me gabar.

Anónimo disse...

"Os caminhos de ferro em Portugal foram inaugurados há 150 anos, mais precisamente em 28 de Outubro de 1856, entre Lisboa e o Carregado. Cinquenta anos depois foi concluída a rede ferroviária nacional."

Ora bem, o comboio demorou 50 anos a chegar à Lousã mas a data não marcou a conclusão da rede ferroviária nacional.
Pela razão simples de que ela não está ainda concluída. No século XX, as últimas aberturas de linhas sucederam em Arco de Baúlhe [Linha do Tâmega], troço Cabeço de Vide a Portalegre [Ramal de Portalegre-Estação. Ainda em 1938 o comboio havia chegado a Leixões e a Duas Igrejas-Miranda [Linha do Sabor]; em 1999, meio século depois, Portugal viria a ter linhas novas: foi o caso da ligação ferroviária Lisboa-Fogueteiro via Ponte 25 de Abril. Já em 2004, esta via chegaria ao Pinhal Novo, assegurando desta forma a ligação directa de Lisboa ao Sul por Caminho de Ferro.
E, visto que o país discute a criação de uma rede de Alta Velocidade (estupidamente chamada de "tgv"), parece certo que a rede ferroviária não está ainda concluída.
Penso que de país nenhum do mundo se pode dizer isso.
É tão bárbaro como dizer que a nossa rede de estradas já está concluída...

Dario Silva.
www.ocomboio.net

Mário Nunes disse...

É claro que o Ramal da Lousã não está concluído, estava para ir até Arganil, acabando por ficar definitivamente em 1932, por Serpins, devido à má gestão dos dinheiros e à vista curta dos políticos da época...
A rede ferroviária não está concluída de maneira nenhuma, erradamente apostou-se no alcatrão, em prejuízo dos carris...
Mas tem que concordar comigo, de 1856 até 1952, grande parte do traçado da rede ferroviária nacional, como a conhecemos hoje foi construido.
Parte dos ramais foram abandonados lesando as populações do interior do país (Corgo, Sabor, Tua), deixando-as sem transporte.
Cinquenta anos depois o comboio transpõe o Tejo!
Evolução...?
Foram precisos 50 anos...
Será que se justifica o dinheiro empatado na Alta Velocidade (TGV)?
Não seria melhor ampliar a rede ferroviária nacional e apostar mais no transporte ferroviário e nos transportes públicos?
Melhorar os horários, as composições e o conforto proporcionado por estas aos passageiros?
É que por essa Europa fora se aposta cada vez mais no comboio, relegando o automóvel privado para último plano.
É altura de repensarmos os transportes tal e qual os concebemos hoje...
Porque o petróleo barato já era...

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