Coimbra, 11 Mai (Lusa) - O especialista em transportes públicos Manuel Margarido Tão considerou hoje "um absurdo técnico" transformar o Ramal da Lousã para instalar o metro ligeiro de superfície, defendendo a realização de estudos antes de qualquer alteração da linha.
"Acho um absurdo técnico tirar o comboio e pôr lá um carro eléctrico. O corredor não tem características, em termos de procura, para servir um carro eléctrico, com paragens de 400 em 400 metros", preconizou.
O investigador foi um dos oradores no debate público sobre o tema "Outra alternativa para o Ramal da Lousã: modernização e electrificação", que decorreu hoje no Grupo Recreativo Mirandense, em Miranda do Corvo.
Na sua perspectiva, a opção pelo carro eléctrico justifica-se para a cidade de Coimbra e na periferia, mas "não para terras a 30 quilómetros de distância".
"Se tivéssemos uma cidade linear de Coimbra a Serpins (Lousã), com prédios de um lado e doutro, justificar-se-ia", defendeu Manuel Margarido Tão, ao sublinhar a necessidade de se fazer um estudo comparativo entre a opção de converter a linha para os eléctricos ligeiros e a opção de modernização ferroviária.
Para o docente da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, o debate sobre esta matéria "encontra-se inquinado".
"A transformação do Ramal da Lousã num sistema para carros eléctricos apareceu como facto consumado, sem qualquer comparação ou estudo técnico", sustentou.
No entender do especialista em transportes, a melhor opção para o Ramal da Lousã seria a sua "modernização em moldes ferroviários", à semelhança do que se fez na Linha de Guimarães, o que, segundo referiu, representaria "um investimento muito menos pesado" do que a conversão prevista para o metro ligeiro de superfície de tipo "tram-train".
Outro orador no debate, o dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário (SNTSF) Álvaro Pinto criticou também a opção pelo metro ligeiro de superfície, considerando que "não é uma solução para vias suburbanas mas para vias urbanas, dentro das cidades".
Ao defender a modernização e electrificação do Ramal da Lousã, o dirigente nacional do SNTSF apontou o "exemplo negativo" da Linha da Póvoa, já sujeita "a várias correcções", para ilustrar o que não se deve fazer naquele troço.
O Ramal da Lousã prolonga-se entre a cidade de Coimbra e arredores e aquela vila, onde vai até Serpins, atravessando ainda o concelho de Miranda do Corvo.
No final de Abril, o presidente da sociedade Metro Mondego (MM) anunciou que o metro ligeiro de superfície deverá estar a circular no Ramal da Lousã, entre Serpins e Coimbra Parque, em Janeiro de 2011.
O projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego prevê a instalação de um metro ligeiro de superfície do tipo "tram-train" - com capacidade para circular nos eixos ferroviários, urbanos, suburbanos e regionais - no Ramal da Lousã e na cidade de Coimbra.
O MDRL tem a circular uma petição, já assinada por cerca de 4 mil pessoas, que exige ao governo a realização de um estudo sobre a electrificação e modernização das infra-estruturas e dos comboios, antes de qualquer alteração definitiva na ferrovia.
O Movimento defende que neste estudo, feito por "uma entidade independente e tecnicamente credenciada", "deve ser ponderada a modernização e electrificação da linha Coimbra B - Serpins, renovando as infra-estruturas e o material circulante, com manutenção da actual via férrea, em alternativa à introdução pela MM de um metro ligeiro de superfície".
Preconiza ainda "a suspensão de qualquer alteração definitiva no Ramal da Lousã enquanto o referido estudo não for efectuado, divulgado e discutido publicamente".
João Pedro Ferreira, deste movimento, disse hoje à agência Lusa que a petição vai ser enviada, ainda este mês, ao primeiro-ministro, ao Parlamento e às três câmaras municipais que são accionistas da MM.
Entre as medidas anunciadas no debate público de hoje promovido pelo MDRL figuram a entrega ao ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, na próxima deslocação a Coimbra de Mário Lino, de um documento apresentando o MDRL e as suas preocupações e ainda a participação na viagem de comboio Serpins/Braga marcada para dia 25.
Para ilustrar as dificuldades que os utentes do Ramal da Lousã sentirão quando o troço ferroviário encerrar para obras, o MDRL vai realizar, em data a fixar, uma viagem de autocarro entre Serpins e Coimbra, cumprindo o percurso rodoviário que aqueles passageiros terão de realizar durante um período previsto de dois anos.
De acordo com o membro do Movimento de Defesa do Ramal da Lousã, cerca de cem pessoas assistiram ao debate, em que foi também orador o engenheiro Ferreira de Araújo, ex-administrador de serviços de transporte.
Fonte: http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=61981&visual=3&layout=10
Muito curiosa, esta notícia e a opinião de um especialista publicada no passado mês de Maio, no site da RTP, pena, a Secretária de Estado dos transportes, o Ministro da tutela e os parlamentares da Assembleia da República não a terem lido...
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