quinta-feira, novembro 15, 2007

Ramal da Lousã: ainda há tempo para o defender?

«Debate conclui que electrificação é a solução mais eficaz para a linha.
A necessidade de fornecer mais informação ao público sobre as consequências da implantação do projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego no Ramal da Lousã, a inadequação deste modelo de transportes a uma linha de montanha foram algumas realidades realçadas no debate alusivo à ferrovia, dia 10 de Novembro de 2007, no auditório da Biblioteca Municipal da Lousã. Uma iniciativa inserida nas comemorações do 40º aniversário do semanário Trevim e ainda no centenário do ramal.


Participaram na mesa de intervenções, João Silva, director do semanário Trevim, Casimiro Simões, jornalista, que já exerceu o cargo de director do jornal, Pedro Malta, presidente da Assembleia Geral da Cooperativa Trevim e Manuel Tão, investigador da Universidade do Algarve com mestrado e doutoramento concluídos em Londres acerca do caminho-de-ferro internacional.


Pedro Malta começou por traçar a história do Ramal da Lousã, apresentando também o livro “O Caminho-de-Ferro de Arganil” como uma interessante leitura para os interessados em saber as guerras políticas e os problemas orçamentais que fizeram com que o caminho-de-ferro não chegasse a Arganil, quando até se chegou a construir um túnel na garganta do Cabril.

De acordo com os participantes no debate, o Sistema de Mobilidade do Mondego trará diversos inconvenientes. Durante a execução da obra, implicará o encerramento do ramal ao longo de anos, sendo o transporte feito em autocarros, levantando-se questões como a quantidade de carreiras necessárias para transportar os actuais utentes da ferrovia, bem como as condições de entrada deste transporte rodoviário em Coimbra, nas horas de ponta. Prevê-se que muitas pessoas optem pela utilização do transporte particular causando maior afluência de tráfego na Estrada da Beira, já actualmente bastante congestionada. Estas pessoas foram consideradas clientes “perdidos” para o caminho-de-ferro, na medida em que provavelmente muito raramente voltarão ao comboio, ou ao eléctrico quando este estiver instalado.

“Temos o exemplo da Póvoa de Varzim, no Norte do país, em que, após a introdução do carro eléctrico, muitos utentes deixaram o caminho-de-ferro, porque se habituaram ao automóvel”, frisou Manuel Tão. Para o estudioso, o que se fez no corredor Lousado-Guimarães e no Porto-Póvoa de Varzim (em que se substituiu o comboio pelo metro) ilustra bem as vantagens da ferrovia em relação ao carro eléctrico.


“Ir lá, fazer as duas viagens, falar com as pessoas, ver o nível de satisfação e depois tirar as conclusões”, disse, reiterando que, quem viaja na linha electrificada, está mais satisfeito com o serviço. Foi sugerida, então, por um dos elementos do público, a organização de uma viagem ao Norte para demonstrar isso mesmo.
Manuel Tão preconiza a manutenção da linha da Lousã; a manutenção da sua ligação à rede ferroviária nacional; a respectiva electrificação em sistema de 25 mil volts; a adopção rápida de comando de tráfego centralizado que permite comandar à distância a mudança de linha, através do recurso a uma infraestrutura em fibra-óptica (que até já existe no Ramal, bem como uma subestação). “São benefícios possíveis de obter com um investimento pequeno, em seis meses e sem interrupção da linha”, frisou.
Considerou que o que se pretende instalar no ramal da Lousã não passa de um projecto híbrido, que pretende responder (mal) às necessidades urbanas de Coimbra e às de montanha do ramal. “O que vai acontecer é que este modelo não vai permitir que Coimbra tenha eléctricos rápidos e vai impedir a modernização do Ramal da Lousã, não fará nem uma coisa, nem outra”, realçou o investigador, acrescentando: “Coimbra tem um determinado padrão de procura e Miranda/Lousã outro. São densidades de ocupação e tempos de viagem completamente diferentes”, disse ainda.

Casimiro Simões, que moderou o debate, estranhou a ausência do presidente da Câmara Municipal da Lousã ou de um representante. De ressalvar que Fernando Carvalho foi convidado para o debate, mas respondeu nagativamente, por ter outro compromisso coincidente, a inauguração da feira do mel e da castanha.

“Sendo um dos municípios interessados em debater, é estranho que ninguém tenha vindo defender a sua posição, que também não se sabe qual é. Durante anos, o actual presidente da Câmara defendeu o metro, mas, no seu programa eleitoral em 2005 deixou cair o projecto metro para lhe chamar modernização do Ramal da Lousã”. O jornalista caracterizou a empresa Metro-Mondego como a “mais improdutiva” do país. “É um escândalo, são consumidos largos milhares de euros com salários e outras mordomias e não se fez nada pelo desenvolvimento de Coimbra”, disse, lembrando a relevância da linha para a própria cidade, tendo em conta a quantidade de pessoas que transporta.
Manuel Tão disse não acreditar que sejam feitas algumas obras a curto prazo, mesmo nas interfaces. “No domínio dos eléctricos, há um conjunto de investimentos que estão à cabeça destes. O meu vaticínio é que daqui a dois anos, tudo esteja igual como está, até porque em 2009 vamos ter eleições gerais e locais”.

O estudioso defendeu ainda que a Secretaria de Estado dos Transportes devia encomendar um estudo comparativo, à semelhança do que fez para o Algarve. “Em 2004 electrificou-se a linha a partir de Tunes para Faro, mas entre Tunes, Portimão e Lagos nada foi feito, tendo-se pensado posteriormente na introdução de carros eléctricos. Entretanto, a Secretaria de Estado actual pediu um estudo comparativo encomendado à Ferbritas, já apresentado, que conclui que a susbstituição de comboios por eléctricos era inviável em termos tecnológicos e financeiros, pretendendo-se agora a electrificação”.

Foram indicadas outras desvantagens do carro eléctrico: “as pessoas estão à espera de um transporte rápido, barato e eficiente. O metro vai trazer um aumento do preço das viagens e, depois das obras, haverá menor afluência de público”, referiu Paulo Cruz, lousanense trabalhador da CP, que defendeu a colocação de panfletos informativos nas estações e nas próprias automotoras para esclarecimento dos utentes.

Convites sem resposta

Para falar sobre o Ramal da Lousã, neste debate do dia 10, foram convidados elementos da CP, da Refer e da Liga de Amigos do Caminho-de-Ferro, mas, até ao momento, nenhuma resposta nos foi enviada.»

In Trevim, 14.11.2007

http://www.trevim.pt/noticia.asp?edcid=280&sccid=109&ntcid=5552#


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