“Maioria reivindicou o regresso do comboio. O sentimento de revolta imperou na sessão que pôs um ponto final nos lamentos e começou a traçar medidas para defender o Ramal da Lousã.
Boicotar as eleições presidenciais, bloquear a A1 com viaturas, ou até mesmo despejar o entulho das obras no Ramal da Lousã junto à residência do primeiro-ministro, foram algumas das propostas lançadas, ontem, na reunião convocada pelo Movimento Cívico de Cidadãos de Miranda do Corvo e Lousã, a propósito da supressão das obras do metro, referentes à via férrea e catenária. A presidente da Câmara de Miranda do Corvo, Fátima Ramos, o presidente da Junta de Freguesia de Miranda do Corvo e o presidente da Junta de Freguesia de Almalaguês, em Coimbra, assumiram abster-se nas eleições presidenciais, em Janeiro, se a tutela não der uma resposta concreta sobre o destino do Ramal da Lousã até ao Natal, tendo a maioria dos presentes admitido aderir ao boicote.
Esperava-se um Cinema de Miranda do Corvo cheio, tendo em conta que o movimento lançou o repto às populações, movimentos de defesa do ramal, autarcas dos três municípios envolvidos, bem como a todos os deputados eleitos pelo distrito, para uma maior participação. Mas, ainda assim, os mais de 100 presentes fizeram-se ouvir, alto e a uma só voz, pela defesa da linha centenária que foi desmantelada em Janeiro, para um metro, que passados mais de 20 anos, “teima” em não chegar à região.
À pergunta de Jaime Ramos, porta-voz do Movimento Cívico, sobre se todos partilhavam a mesma exigência, originou-se uma resposta unânime, constituída por mais de uma centena de braços no ar e algumas palmas de concordância. E a exigência, que já não é nova, passa por «impor a reposição da circulação ferroviária entre Serpins e Coimbra». As opiniões dividem--se entre a reposição do comboio ou a defesa do metro, com uma predominante preferência dos cidadãos pela primeira opção, mas todos foram unânimes em exigir o serviço que as populações de Miranda do Corvo e Lousã perderam. «Se eles [Governo] tiverem muito dinheiro façamos o projecto, se não reponham a linha», lançou Jaime Ramos que, ainda antes da reunião, tinha enviado uma carta aberta aos órgãos de comunicação social a anunciar a sua abstenção nas próximas eleições presidenciais em sinal de protesto, declarando não legitimar o seu voto «a quem fez esta bandalheira na região».
Criação de uma comissão
À crítica endereçada ao Governo pelo «crime» da destruição da linha sem garantias de conclusão do metro, somaram-se as críticas ao despesismo levado a cabo durante anos com a sociedade Metro Mondego, entretanto extinta, à postura assumida pelo município de Coimbra ao longo do processo, bem como os lamentos pela falta de mobilização das populações e pela falta de representação das faixas etárias mais jovens na luta pela defesa do projecto. «As pessoas estão muito desacreditadas, estão sem esperança, os utentes só estarão aqui se nós os mobilizarmos», referiu Carlos Ferreira, líder da concelhia do PSD de Miranda do Corvo, acrescentando que o sentimento de descrença se estende às camadas mais jovens da população.
Na sessão, que se prolongou durante toda a manhã, os cidadãos deliberaram ainda constituir uma comissão para desenvolver as iniciativas de protesto propostas, entre as quais se destaca ainda o condicionamento da circulação de comboios da Linha do Norte e a responsabilização criminal dos governantes implicados no marasmo em que se encontra o projecto Metro Mondego.”
Fonte: Diário de Coimbra
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